Por Rosangela Bion de Assis, jornalista do Sindprevs/SC

 

No dia 5 de dezembro, o economista e professor Ladislau Dowbor, esteve em Florianópolis para proferir palestra e lançar seu livro “A Era do Capital Improdutivo”. No período da manhã, ele recebeu a imprensa na sala do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconomicos) . Economista brasileiro de origem polonesa, Dowbor é autor de 40 livros e foi consultor de Agências da ONU (Organizações das Nações Unidas), governos e municípios. 

Neste dia, Ladislau falou sobre a aumento dramático da exploração da população mais pobre provocado pelo sistema de juros; sobre o poder e a fragilidade do sistema financeiro.

 

O dinheiro vai para onde rende mais 

“As pessoas começam a entender que a exploração se dá de outras maneiras, não somente através da mais valia. Enquanto uma pessoa com condições de pagar uma geladeira à vista paga R$ 1.200,00 uma pessoa pobre paga R$ 2.700,00, em prestações. O grau de exploração se deslocou dos salários para o sistema de juros, provocando um reforço dramático da exploração.

No Brasil, as pessoas não entendem de juros. Elas nunca tiveram uma aula sobre como funciona a moeda. O país está pagando um trilhão em juros, é 15% do PIB (Produto Interno Bruto) que poderiam ser reaplicados na economia. 

A tomada de consciência de que nenhuma economia pode funcionar assim ao mesmo tempo em demonstra poder, gera uma grande fragilidade ao sistema. Permite que ele financie a mídia, juízes e a política, mas a compreensão desse caráter improdutivo está penetrando o mundo. O sucesso do livro do Piketty (Thomas Piketty, autor de O capital no Século XXI) demonstrou de forma cabal que hoje rende mais fazer uma aplicação financeira do que investimento produtivo, então o dinheiro vai para onde rende mais.

 

Na base da pirâmide os ganhos estão parados há décadas

O fantástico avanço das tecnologias permitiria um extraordinário avanço econômico, basta ver as taxas de crescimento da China mas, no resto do mundo, o sistema capitalista, que se tornou financeiro, trava a capacidade econômica e ainda existem os impactos políticos como, por exemplo, o Trump. Nas últimas décadas, os economistas americanos demonstraram que os 70% da população, que estão na base da pirâmide, estão com os ganhos parados, os filhos estão ganhando menos que os pais, enquanto os ganhos do 0,1% do topo da pirâmide explodiram.

 

O poder e a fraqueza

Isso gera um desnorteamento e gera, gradualmente, uma massa de gente que começa a entender as desarticulações. O livro de Joseph Stiglitz, "Reescrevendo as Regras", afirma que as regras atuais não funcionam mais. Esse livro parece um espelho do Brasil. Ele diz que o sistema tem que ser inclusivo e distributivo, porque isso funciona. Um monte de gente em todo mundo está dizendo a mesma coisa: esse sistema não funciona.

A força do Brasil neste processo é que muitas pessoas lembram dos 10 anos de ouro, porque os avanços até 2015 foram fenomenais e isso tenciona essa oligarquia que quer empurrar de novo um modelo que só faz aumentar o desigualdade. Ao mesmo tempo esse sistema é extremamente poderoso porque é planetário, mas seu ponto vulnerável é que ele não responde às necessidades da base população.

 

Fonte: Sindprevs/SC