Ana Rosa Moreno, Puebla, México, para Desacato.info

Tradução: Elissandro dos Santos Santana

 

O empresário, e agora presidente em exercício dos Estados Unidos, apresentou uma postura exagerada e crítica em relação ao migrante mexicano que reside e trabalha de maneira ilegal dentro do território que está sob sua administração e também contra seu país de origem. Tão somente em sua primeira semana de atuação na presidência ameaçou em cumprir três de suas promessas de campanha, a primeira, deportar os migrantes mexicanos que, segundo pensa, são estupradores e traficantes de drogas, a segunda, a construção do muro e a terceira a renegociação do Tratado de Livre Comércio com a América do Norte. Ademais, graças à sua influência como usuário do twitter, conseguiu somente com um post com que a empresa Ford retirasse o plano de abrir uma fábrica de montagem de carros em San Luis Potosí, México. Esta nova situação obriga o país mexicano a olhar para o Sul, buscar novos clientes e fazer algo que não havia feito em mais de 80 anos: procurar a independência e deixar de ser o quintal dos Estados Unidos.

 

A política racista de deportar mais de dois milhões de imigrantes mexicanos ocorrerá, ao que parece, em duas etapas, a primeira é deportar quem possui pendência com a justiça por delitos como roubo, estupro ou agressões. Isto é muito grave porque dentro do sistema penal estadunidense está sistematicamente pensado para que as minorias sejam fortemente afetadas por delitos menores como vagabundagem, posse de drogas (embora o consumo de determinadas substâncias esteja legalizada), por não pagar multas de trânsito ou administrativas, basicamente “cometer um delito”, pode significar muitas coisas. A segunda onda de deportações vai pela força.

 

Além de ser a manobra mais cara da história, é um problema sério para o México porque o país não tem capacidade para absorver seus compatriotas, porque não há empregos e os salários são miseráveis, razão por que muitos mexicanos vão para os Estados Unidos como possibilidade de ficar à frente, já que no México está impossível sobreviver com um salário mínimo de US $ 4 por dia.

 

Mas também afeta organizações que apoiam os migrantes em solo estadunidense. Donald Trump disse que trará abaixo os programas de ação sobre os que chegaram ainda na infância (DACA por sua sigla em Inglês: Ação Diferida para os que chegam na Infância) e Ação Diferida para pais de cidadãos e residentes permanentes (DAPA, por sua sigla em Inglês: ações diferidas para os pais de norte-americanos), citando alguns exemplos.

 

Acompanhado das deportações surge a construção do segundo muro da vergonha; isto é para evitar que os migrantes mexicanos e centro-americanos possam entrar no país estadunidense. Ali, F. Rhuzkan, um engenheiro especialista em estruturas, explica que para construir um muro de cimento sólido e não de vigas metálicas como o muro que já existe seriam gastos aproximadamente 50 milhões de dólares e, para começar a construção, primeiro deverá obter as verbas do Congresso. “Para evitar que façam túneis, deve-se fazer uma massa de metro e meio. Para que não pulem o muro, este deve ter em torno de 6 metros de altura. Se trataria de uma das obras de engenharia mais importantes da história da humanidade… só existe algo que se compara: a muralha da China”, afirma Rhuzkan.

 

O Estado mexicano nas mãos do presidente Enrique Peña Nieto já disse que de nenhuma forma liberará nenhum peso para a construção de algo tão absurdo (primeiro, porque a ideia viola nossa soberania e, segundo, porque não há dinheiro e, se houvesse, já foi dividido). Então, Trump poderia obter este dinheiro das remessas. A equipe de Trump fez cálculos e estima que teria que ser um imposto de 10% sobre os envios dos cidadãos mexicanos para o país. Se em um ano mandam 250 milhões de dólares ao México, a administração de Trump tardaria em recuperar o dinheiro investido na construção do muro em 20 anos; péssima ideia.

 

Está marcada uma reunião para o dia 31 de janeiro entre mandatários, porém Peña Nieto cancelou sua visita ao país vizinho do norte. Inclusive, Trump, para não ficar como o arrumado e despenteado para seu povo, expressou por meio de sua máxima ferramenta de comunicação e temor, o twitter, que ele cancelou o encontro porque Peña Nieto não havia concordado com seus pedidos, desejos e birras. Ao final, o Porta-voz da casa Branca, Sean Spicer, revelou que uma medida para que o México pague o muro que eles avaliaram entre 12 e 15 bilhões de dólares terá que impor uma tarifa de 20% às importações mexicanas, medida que, acredito ser idiota, porque Os Estados Unidos estão começando a rejeitar os produtos provenientes do México. Eles mesmos se prejudicam.

 

Benjamin Netanyahu, o primeiro ministro do Estado de apartheid e ocupação de Israel, por não ter nada o que fazer, porque busca reforçar as relações com Os Estados Unidos ou porque também sente certo ódio e rejeição pela comunidade mexicana, aprovou a ideia da construção do muro no território mexicano como excelente medida para repelir a migração ilegal, assim como fez em seu país.

 

“Tem razão. Eu construí um muro ao longo da fronteira sul de Israel. Isto deteve toda imigração ilegal. Sucesso. Ideia genial”, afirmou o assassino israelense em sua conta no Twitter.

 

Meu questionamento é: Como Netanyahu deteve a imigração ilegal sobre um território que não o pertence? O muro em Israel, mais que uma medida de suposta segurança para diminuir os ataques terroristas e a migração ilegal é uma medida que assegura a ocupação, o roubo do território palestino e o apartheid que viola e nega o direito à livre circulação dos palestinos em sua própria terra. Aparentemente, a estratégia de Netanyahu de apoiar o muro de Trump tem a intenção de obter o aval dos Estados Unidos para seguir agredindo ao povo palestino.

 

No México, a comunidade judaica se distanciou dos comentários de apoio do primeiro ministro sionista israelense, exigiu respeito para seus compatriotas mexicanos e mostrou apoio ao presidente mexicano. Desaprovou o fato de que Netanyahu esteja metendo sua colher em outros caldos.

 

E para piorar a situação, uma das empresas que figura para a construção do muro é mexicana. Cimentos Mexicanos ou Cemex é uma das companhias melhor posicionada para obter benefícios de um projeto de infraestrutura que poderia custar 15 bilhões de dólares, inclusive, Cemex já se beneficiou do plano de Trump de gastar até 500 bilhões de dólares na construção de caminhos, pontes, túneis e aeroportos. Esta empresa também fornece cimento aos israelenses para a ampliação do muro na Palestina ocupada.

 

Por último, a renegociação do Tratado de Livre Comércio com América Latina faz mais de 20 anos e nos prometeram uma verdadeira integração econômica e zona de livre comércio que ajudaria ao país mexicano a passar para o primeiro mundo, mas a realidade é que pouco nos beneficiamos deste tratado. Em primeiro lugar, porque a livre circulação de pessoas não é um fato; somente se aplica para os canadenses e estadunidenses; o peso se desvalorizou em vez de se fortalecer; os produtos mexicanos devem cumprir estritas normas de qualidade para entrarem nos Estados Unidos e no Canadá; importamos matérias primas como tomate, feijão, milho, cana-de-açúcar, somente citando alguns exemplos que afetam nossos agricultores obrigando-os a venderem esses mesmos produtos extremamente baratos. Os bens do Norte desbancaram os nacionais e, como consequência, aumentaram os índices de obesidade e diabetes. As mineradoras dos Estados Unidos e do Canadá extraíram, de maneira brutal, ouro e prata de nossas minas, ocasionando destruições irreversíveis ao meio ambiente. As maquilas norte-americanas têm explorado com salários míseros aos trabalhadores mexicanos e, assim, poderia ir fazendo uma lista das consequências negativas do NAFTA para o país.

 

Donald Trump solicitou a renegociação porque considera que o México tem “disfrutado de benefícios” que geram déficits à economia estadunidense. Canadá disse que ama o México, porém que ama mais os próprios interesses. Inclusive, o ex-presidente que negociou o NAFTA, Ernesto Zedillo Ponce, recomendou que é melhor sair da integração econômica e buscar novos mercados.

 

Se Peña Nieto e sua equipe forem inteligentes e sensatos, verão esta excelente oportunidade para saírem de um tratado que nunca beneficiou o país e que, ao contrário, gerou dependência. Se esta medida parece perturbadora, é o começo de um caminho de independência econômica e até política. Alguns comerciantes já estão buscando entrar em outros mercados.

 

Como um lembrete, o segundo gasolinaço é esta semana e parece que a situação mexicana afunda na areia movediça: Quem vai nos salvar? Será que a Virgenzinha ou o próprio mexicano?

 

Fonte: Desacato

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