Por Débora Mabaires, Argentina, para Desacato.info.

Versão em português: Raul Fitipaldi, para Desacato.info

 

O governo de Maurício Macri decidiu inovar em alguns aspectos da ditocracia que dirige. Na última semana pudemos observar um novo ataque contra o povo que supera os limites da racionalidade: colocou a Polícia a realizar o serviço sujo da limpeza étnica e classista que pretende levar adiante em nosso país.

 

Surpresos, os cidadãos da Cidade de Buenos Aires que viajavam na linha A do metrô puderam observar seis policiais que detinham e algemavam um jovem. No início muitos hesitaram em intervir, porque não sabiam qual era o motivo da detenção, mas depois, os fardados explicitaram que o detinham por vender lenços. “Você é o cara que vende lenços”. Por que o levam: “Porque não pode vender lenços”. E, dessa forma, entre empurra-empurra e insultos dos passageiros com as forças policiais, o levaram detido. Três dias depois ninguém soube o que aconteceu com este rapaz que trabalhava como vendedor ambulante.

 

Um dia depois, na cidade de Lanús, na região da Grande Buenos Aires, um grupo de vários policiais irrompeu num refeitório comunitário onde estavam comendo 70 crianças. Bateram na cozinheira, as crianças gritaram e os policiais dispararam balas de borracha contra todos os presentes: gente desempregada, doente, aposentados.

 

Antes de ir embora os policiais lançaram gás pimenta nas panelas nas que se cozinhava o alimento das 70 crianças e perto de 100 adultos que, essa noite, ficaram sem comer; e levaram 4 jovens. Subiram eles nos carros da polícia, e pouco depois, bateram neles. A dois deles os encerraram no camburão e jogaram dentro uma bomba de gás pimenta. Depois, abriram o carro e os deixaram sair abandonando-os num local. Aos outros dois jovens os mantiveram seqüestrados enquanto seguiam no carro da polícia e bateram neles. Sem registrar-se ingresso em nenhuma delegacia e sem que o juizado de turno interviesse, foram levados até um médico forense para constatar seu estado de saúde e os deixaram ir.

 

Nem a governadora da Província, Maria Eugenia Vidal; nem o ministro de Segurança, Christian Ritondo; nem o chefe da Polícia Bonaerense, Pablo Bressi deram explicações ao povo. Também não foram entrevistados pelos meios de comunicação com relação a isso. E, naturalmente, os jornalistas que cobram acréscimos salariais para estar ao serviço do regime macrista, deram o aval a este acionar, justificando o tiroteio contra crianças com um suposto ladrão que teria ingressado no lugar e ninguém nunca viu, nem foi preso, subestimando àqueles o público, tentando fazer acreditar que a Polícia persegue ladrões com balas de borracha. Mas, o mais grave é que tenham estado instalando a idéia de que um grupo policial possa estar armado e disparado em um lugar público com a desculpa de pegar um suposto delinqüente. Poderiam então entrar em qualquer domicílio com a desculpa de que perseguem um ladrão? Poderiam entrar numa escola, universidade, ou centro comercial e balear gente com a mesma desculpa?

 

A operação midiática com a pretensão de instalar essa idéia é quase tão macabra como o acionar policial.

 

Dois dias depois, em Rosário, a polícia ingressou a um dos bairros mais humildes com um operativo comando. Bateram em mulheres, crianças e adultos. Roubaram telefones celulares e o pouco dinheiro que tinham. Tem vários feridos. Um dos menores foi seqüestrado, bateram nele de forma selvagem e o jogaram num terreno baldio. Está hospitalizado. Tem 15 anos.

 

Outros foram baleados e transladados a uma das delegacias com mais antecedentes de brutalidade policial.

 

Protegido por um Poder Judicial que o ampara, não só para roubar a todos os argentinos, senão que para torturar e matar os pobres, o governo de Maurício Macri está aperfeiçoando o genocídio que seu antecessor e ele mesmo avalizaram em 1976.

 

A negação do Exército Argentino de intervir na segurança interior, tal como o solicitou Maurício Macri, contrariando três leis nacionais, fez com que optasse por utilizar as polícias, instituições que nunca tinham sido tocadas pelo braço da Justiça na hora de sancionar os crimes cometidos durante a última ditadura militar.

 

Despojados de identificação; armados com equipamentos militares que Macri comprou ao governo de Israel; treinados pelo exército israelense, estes grupos comando estão semeando o terror na Argentina.

 

O pequeno mal que governava a Cidade de Buenos Aires criando uma força especial para reprimir indigentes, chamada UCEP (Unidade de Controle do Espaço Público), tinha sido freado pelo poder judicial ante as primeiras denúncias dos feridos, que incluíam fratura do braço a uma mulher grávida. Tiveram que desfazê-la.

 

Agora, com o aval que dá a Presidência da Nação, Macri sem as caras, manda as forças repressivas fazer o trabalho que mais gosta: apoderar-se do espaço público aterrorizando a quem lá mora. No caso da Cidade de Buenos Aires, isso pode se ver com clareza no Bairro Villa Mitre, onde a ação em cumplicidade com um fiscal, estava destinada a poder comprar terrenos baratos e desenvolver o negócio imobiliário. No caso de Lanús, asseguram os vizinhos, a perseguição se deve a que buscam instalar o negócio do tráfico de drogas no local, e que a presença do refeitório comunitário faz com que a zona seja muito visitada e visível, o que torna o negócio inviável.

 

No caso de Rosário, o ataque ao bairro favelado tem uma origem racista. O bairro foi conformado por indígenas Qom, que chegaram da província de Chaco, que tinham sido transladados de maneira forçada e abandonados na província de Santa Fe. Sem pertences, sem falar espanhol e sem dinheiro, caminharam até Rosário, seguindo a trilha do trem que os tinha transportado e se instalaram aí, permanecendo até agora, sobrevivendo como trabalhadores quase escravizados, ou como artesãos com a esperança de comer todos os dias vendendo seus serviços, mal pagos, à Grande Cidade.

 

Hoje, com o novo governo neoliberal, mas, de características brutais que assemelham-se às da ditadura de 1976, os pobres não têm voz nem defesa alguma. O terrorismo de estado novamente se instalou em nosso país.

 

Macri decidiu eliminar a pobreza: está disposto a matar pobres.

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