Ao término de mais um protesto contra o aumento da tarifa, a estação Anhangabaú estava com os portões fechados. Motivo? Nossos videntes previram um catracaço.
A manifestação de ontem foi a menor até agora, comprovando que a estratégia da polícia de impor medo e ferir pessoas funciona. Transcorreu sem nenhum tipo de problema do início ao fim. E note-se que até adolescentes haviam mostrado maturidade em não reagir às provocativas ‘paradinhas’ do cordão de policiais que atualmente tem ido à frente e ditado o ritmo.Sim, além dos cordões laterais e de todo aparato motorizado que vai atrás, agora uma linha de PMs vai numa espécie de abre alas às avessas. Caminham de costas, ficando cara a cara com os manifestantes e promovendo pausas que deixam todos espremidos e próximos o suficiente para que um simples encontrão nos escudos sirva de ignição para a garoa de sprays de pimenta e bombas de vários tipos.
Ainda assim com o ato concluído em frente à Câmara Municipal, relativamente longe dali, o metrô deu-se ao luxo de cerrar os portões. Ao menos uma mulher grávida e centenas de pessoas que voltavam do trabalho estavam impedidos de entrar na estação Anhagabaú pois alguns manifestantes poderiam pular as catracas. É obvio que um princípio de tumulto teve início e a Tropa de Choque foi acionada.
Curioso como o entendimento do direito de ir e vir é flutuante. Os últimos dias foram permeados pela discussão a respeito da necessidade de se informar o trajeto a ser realizado pois “a não comunicação prejudica o direito de ir e vir dos moradores da cidade”. E aí o metrô fecha as portas. Dá para entender?
Das seis manifestações convocadas pelo MPL este ano, nas últimas três o metrô agiu dessa forma e em duas delas foram as únicas situações de confusão do dia.
Seria patética se não fosse maldosa essa atitude das autoridades de bloquearem uma rua para evitar que os manifestantes fechem-na, de fechar portões de estações de metrô ou ainda bloquear um terminal de ônibus (no penúltimo ato o terminal Dom Pedro foi evacuado, fechado e tomado pela polícia em virtude da concentração dos manifestantes do lado de fora, na praça em frente. Em nenhum momento foi pedido para fechar nada, essa ação é deliberada e gratuita).
É evidente que se trata de uma estratégia para jogar a população contra a manifestação. Assim também tem feito o metrô que é responsabilidade do governo estadual. Fecha as portas e prejudica a maioria para ‘proteger o patrimônio’ de meia dúzias de catracas pelo medo que meia dúzia de pessoas passem sem pagar. Uma grávida pode ficar do lado de fora e sujeita ao ataque da Tropa de Choque, mas as catracas estarão preservadas.
E se o leitor acredita que isso não é seletivo, saiba que para uma determinada categoria de manifestantes as catracas são liberadas para incentivar a adesão e ampliar o número de pessoas na avenida. Se em vez de trajar preto o manifestante estiver de verde e amarelo, o metrô abre as portas e as pernas.
Fonte: DCM
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